quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Os dois lados de Finados...

Sete da manhã e o despertador tocou mais uma vez...
Na sacada do quarto era possível ver um sol maravilhoso e sentir o ventinho gelado... Promessas de um dia com tempo agradável. Logo pensei: em Paranavaí não costuma chover no dia de Finados, como em quase todos os anos em que trabalhei em Presidente Prudente nesta data?
É, este ano tudo parecia mesmo diferente... Por fora e por dentro! No mundo... E no MEU mundo!!!
Cemitério municipal lotado... Pessoas de todas as idades, com todos os tipos de comportamentos. Nos túmulos, famílias inteiras reunidas. Tinha também orações solitárias... Missa... E no cruzeiro, o cheiro e o calor que vinham das milhares de velas acesas trouxeram lembranças... Trouxeram saudade! Mas não havia tempo pra isso! Era hora de trabalhar... Garimpar boas entrevistas... Fechar vt e me preparar para um AO VIVO direto do cemitério.
Como aqui dentro também pulsa um coração cheio de sentimentos, na entrevista com a dona Dolores, que perdeu o marido há pouco tempo e estava pela segunda vez aos pés do túmulo dele só no dia de hoje, senti os olhos cheios de lágrimas... Respirei fundo... Engoli seco... Não podia borrar a maquiagem!!!
Então, maquiagem intacta... Roupa impecavelmente engomada... Parei por alguns minutos sob a tenda montada para as missas... Onze e pouco da manhã e eu teria um minuto e meio de link. É, um minuto e meio pra falar, ao vivo, sobre a movimentação, sobre tudo o que aconteceu durante a manhã alí, no cemitério de Paranavaí. Elaborei um texto, meio alheia a toda a emoção que envolvia aquelas pessoas... Algumas paravam pra me olhar "falando sozinha"... É, eu gosto de falar enquanto escrevo!
Enfim, meio dia, jornal no ar... E tudo certo! Foi só mais um link!!!
Já na redação, resolvi ouvir novamente as sonoras (as entrevistas). E daí... Daí comecei a perder toda AQUELA FORÇA DE REPÓRTER... Ficou difícil escrever o texto da reportagem da segunda edição do jornal. A voz embargou... E já não foi possível controlar as lágrimas. Sozinha na redação, elas escorreram pelo rosto! Um misto de saudade... "Saudade daqueles que já se foram"... Exatamente como eu havia ouvido de todos os meus entrevistados durante a manhã!
Parece que esse sentimento fica ainda mais pesado quando não estamos perto daqueles que ainda estão por aqui. É mais difícil enfrentar a saudade dos que morreram, quando estamos longe dos que ainda vivem!!!
Demorei... Muito mais do que demoro normalmente pra deixar o texto prontinho e gravado. Foi difícil escrever... Organizar as ideias. Nesta hora, já tinha a companhia de dois colegas de trabalho. E quando achei que estava saindo, sem que ninguém percebesse a fragilidade da "repórter que também sofre", eis que Marcelo Baraldi, diretor de TV e dono de uma sensibilidade gigantesca, pergunta-me: "Tici, você está bem?"
Já com a bolsa numa mão, a chave do carro na outra e, mais uma vez, com os olhos brilhando, cheios de lágrimas, respondi: "Não, não estou muito bem não."  Ele continuou: "Eu percebi desde quando você chegou!" Não continuei a conversa... E saí...
Saí com uma certeza: Tenho e quero ter sempre sentimento... Não quero me acostumar com notícias ruins... Quero indignar-me com as injustiças... Quero sofrer com as tragédias. Mas quero também conseguir controlar essa mistura de sentimentos, pra que seja possível relatar tudo a vocês...
Do jeitinho que tem que ser!!!

http://g1.globo.com/videos/parana/v/milhares-de-pessoas-visitam-os-cemiterios-neste-dia-de-finados/1683112/#/ParanáTV2/Paranavaí/20111102/page/1

6 comentários:

  1. Emocionante!!! Viajei junto com você neste texto. Através dele, pude comprovar o quanto você está mais forte diante das vicitudes da vida. Forte não é lutar contra... Forte é se sensibilizar diante do natural, da dor alheia. Se compadecer com a dor do próximo e manter a fé e o brilho nos olhos. #OrgulhoImenso de conhecer vc e ter tido a oportunidade de compartilhar momentos ao seu lado... Bju Gde parabéns pelo BLOG.

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  2. Nossa Ticiane, tive que respirar fundo agora, mas mesmo assim não aguentei e as lagrimas foram inevitaveis....Que texto maravilhoso.
    O final então nem se fala....Sou jornalista tbém, infelizmente estou desempregada, mas em nossa profissão por mais quen ouça dizer que temos que ser profissional, que não devemos nos emocionar, isso para mim muitas vezes é impossivél, por diversas vezes respirei fundo, engoli a seco, mais chega uma hora que não dá, pois somos seres humanos. Parabéns pelo seu blog e parabéns sempre pelo seu profissionalismo.

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  3. Muito bom seu texto, não sabia que tinha um Blog. Já vou favoritar e linkar com o meu. Fui conferir a matéria também. Não tenho TV e acompanho só as melhores pela net. Um beijo e fica bem.
    Em tempo: Que bom que ainda temos profissionais de imprensa como você. Que bom mesmo. Sorte a nossa.

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  4. Muito lindo!!!>..Gostei do Texto....cheio de sentimento..Parabéns PlimPlim........Amo vc|!!!....saudadesssssss...
    Pestana

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  5. Adorei o texto Tici.. continue escrevendo, já está nos meus favoritos...beeijo Erica

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